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SONHO VIDA

desperto e completo o dia na noite.  vivo meus sonhos com os olhos abertos,  o sono mutila o dia e anula a noite.  o sono foge as horas em minhas mãos   - irrealizáveis partículas dos meus átomos,    não multiplicadas semanas dos meus corpos,    improdutivos meses das minhas vidas,    inúteis anos e séculos da cotidiana eternidade -  o sono estraga todos os sonhos  e eu sei que, dormindo, não repousamos.  a vida é energia desperta claro dia   iluminando a noite mais profunda.  o sono é morte.  (Do livreto AMÉRICA INDIGNADA  Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA,  de Juareiz Correya  - Panamerica Produções / Nordestal Editora,   Recife, PE, 1991) ___________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA  E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20,  de Juareiz Correya   (Panamerica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010) 

COMUNICADO PARA DESCONHECIMENTO DA CIDADE

a cidade ignora a tua presença.  ela não sabe   que por seus membros apertados   passeia a tua carnal beleza,  que percorres, com a tua graça,  o seu inalterado cotidiano,  conheces no teu sorriso   as estações dos seus bairros,  e que expressas, sensual e doce,  olhares e bocas de suas ruas e becos,  e as sensações dos seus luares e rios,  iluminando pelas praças e pontes com a tua magia de fêmea  a invenção de sóis e ventos   dos seus dias e noites renascidos.  e porque te encontro a cidade inteira te olha :  atenta e espiã a cidade te descobre   e os homens te buscam com fome   e as mulheres te invejam com raiva.  AH CIDADE VG  IGNORA NOSSA EXISTENCIA   (Do folheto AMÉRICA INDIGNADA Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA - Panamerica Produções / Nordestal Editora,   Recife, PE, 1991) ________________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA  E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya    - Panamerica Nordestal Editor

POR TODOS OS SENTIDOS

tua fala tem sossego  um segredo que não cala  por fora da tua voz   que traz carícia  e notícia   bem de dentro do teu peito   do jeito de se agradar   do jeito mais que perfeito  do lado esquerdo e direito   por onde vai teu coração   se alegrando e palpitando  querendo e adivinhando  o toque da minha mão   um tato novo é preciso   com cuidado e com juízo   de quem chega em terra estranha   um tato claro que chegue   te acelere e te apegue   quando mais cresce e te arranha   que descobre teus apelos   no sangue da tua cor   na tua hora sem medo   no gosto do teu calor  teu corpo brilha maduro   universo claro-escuro  ninho de tons e mistério  tem um som na tua pele   guardado que se expele   virado em percussão  eu bem quero e te venero   te faço crença e canção     e o teu cheiro mais vivo   veneno doce e lascivo  me entorpece e me excita   eu sou quem dou e acredita   a minha sorte na tua   a nossa nudez mais nua   te faço mulher renasci

INTIMIDADE

eu gosto do teu cheiro de dentro de dizer que te mato   de prazer de cansaço  de perder os meus braços  navegando em teu mar   eu gosto  dessa carne que arde  mais cedo e mais tarde  pelos cantos da casa  de fazer minha rede   no vai-vem dessas pernas (no aconchego das coxas)    de cair de cabeça   nos segredos da gruta   eu gosto  desse gosto mais doce   que o teu corpo oferece   de tanto gozar  do teu longo arrepio  dessas voltas do cio   desse amor sem parar  (Do folheto AMÉRICA INDIGNADA Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA, - Panamerica Produções / Nordestal Editora, Recife, PE, 1991) ________________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA  E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya   - Panamerica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010 

PLENITUDE

Eu te pertenço como não me pertenço  sempre sei o que sou em tuas mãos   e gosto de ser assim o teu querer  sono e sonho toda hora é teu prazer   tudo sabe meu corpo e se renova   e se amplia mais, a carne orientando,  porque animas a vida como quem me cria,  a tua posse me completa, perfeita harmonia   de quem me inaugura em paz e alegria   (Do livreto AMÉRICA INDIGNADA Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA - Panamerica Produções / Nordestal Editora, Recife, PE, 1991) ________________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA  E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya  - Panamerica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010

COTIDIANO

O tempo não cabe no dia e o dia - essa humilde e limitada criação do tempo - não cabe nas minhas mãos, parceiras  de iluminadas horas em tuas mãos. manhãs tardes e noites inconfundíveis  destinadas forças do imutável dia cota diária de tudo e de todos o tempo não existe, nem o território concreto e absoluto em que instaura e institui  o dia - sua unida e legítima criação. em nós vive a nossa concreta  e absoluta existência, em nós unicamente  se manifesta e se inaugura  a manhã a tarde e a noite  - jamais o dia, o invisível dia  filho do inexistente tempo.    (Do livreto AMÉRICA INDIGNADA  Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA - Panamerica Produções / Nordestal Editora, Recife, PE, 1991) ______________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya  - Panamerica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010

ABRIL

"Abril é o mais cruel dos meses"                           (T.S. ELIOT) Nenhum mês é cruel. Os meses são messes, prova e força de nomes humanos. Dias completos, casas do zodíaco, horas de cada dia, ano por ano, o tempo é o homem.  Em tudo nascemos. Em todos vivemos. Tu és terra de abril, maio, a mesma terra que eu sou a gosto, setembro.  Também capricórnio em nós identificado.  Água sobre água, fogo por fogo, ar em ar libra gêmeos de aquário. Homem e mulher, signos, mulher e homem, símbolos, únicos elementos.  Tu és tu em mim, eu sou eu em ti.  Nunca existimos sem ser o outro.  E porque nasceste, nasci.  E porque tu vives, eu vivo.  (Do livreto AMÉRICA INDIGNADA Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA, de Juareiz Correya  - Panamérica Produções / Nordestal Editora, Recife, PE, 1991) ____________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya  - Panamérica Nordestal

O SOM E A TERNURA

Em tua voz escuto melhor o meu nome. A suavidade com que dizes  o que tu queres é doce e agradável como a tua boca. Tuas palavras são beijos. Teu pensamento desejo. E mesmo que nada fales, sinto que te conheço a nua intimidade, com a certeza da luz  que a tua voz revelará. (Do livreto AMÉRICA INDIGNADA Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA, de Juareiz Correya - Panamerica / Nordestal Editora, Recife, 1991) _____________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya - Panamerica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010

CANTO A NÓS MESMOS

"Eu disse que a alma não é mais do que o corpo,  E disse que o corpo não é mais do que a alma."                                        (WALT WHITMAN) quando amamos descobrimos tudo  a terra a água o ar o fogo  a natureza as estações os tempos  e a possível sobrevivência  de deus e do diabo.  descobrimos  os nossos corpos puros a carne o sangue a emoção  - sopro permanente da existência.  somos viva  e intensa descoberta  em nós mesmos  além de nós mesmos  e pela projeção  de nossas forças imaginárias.  tudo vive a beleza existe  e é em nós que a eternidade nasce.  somos o princípio único o universo em pessoa.  o corpo goza a emoção e se completa com o outro corpo  e a alma anima a carne  unificada com a outra alma.    ....................................................................................... (Do livreto AMÉRICA INDIGNADA  Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA, de Juareiz Correya  - Panamerica Produções / Nordestal Editora, Recife

CÃNTICO CLARO (sobre tema de José Régio)

Se vim ao mundo foi só para te amar  e te fazer amada. O mais que faço, não vale nada.  (Do livreto AMÉRICA INDIGNADA Y POEMAS DA ALEGRIA DA VIDA, de Juareiz Correya - Panamerica Produções /  Nordestal Editora, Recife, PE, 1991) ____________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya  - Panamerica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010