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Mostrando postagens de julho, 2009

CANÇÃO

Dia para fecundar ilusões em que o meu corpo se acalme sem o teu corpo que não me chegou por nenhuma via, e o meu cérebro apodreça com sedativos vaporosos. Dia amargo. Não sei o que fazer corretamente não sei, enfrento caras obesas de hábitos dentro da rua sem calma, inquietação, sem sentimentos, tenho ódio de tudo com a força morta dos meus dedoscabelos amarrados nas janelas dos apartamentos e uma sensação idiota de que abro vazios dentro de mim com um bisturi enferrujado e sangro pelas cicatrizes fétidas cobrindo-as com pastas de tuberculose e dentes de máquinas mastigo pelos braços vagamente bolos de nada. Poemas gargaloam secamente até a minha boca e os meus gritos gelam as estrelas que ardem dentro das salas onde são seviciados e torturados os homens do meu tempo, onde a minha geração sacrifica-se pelo bezerro de ouro das igrejas depravadas e os anjos bíblicos forjam cadeias para as suas alegrias. ____________________________________ ( antologia POETAS DE PALMARES, Editora Palma

Catherine Deneuve (III)

Catherine eu me esforço e não te conheço além do pouco espaço desta cama e tenho medo e sinto frieza nos ossos quando os teus olhos se afastam do meu corpo teus olhos Catherine me inundam e me enfraquecem e exigem tantas vezes o meu sexo que me impõem a sensação de que estou aridamente seco estéril sou eu Catherine que me arrasto sem forças nos teus olhos e arrebento com fúria todas as coisas com os teus olhos Catherine não é possível que este quarto seja um quadro de solidão com a tua presença Catherine não é possível a câmera fecha-nos em círculos cada vez menores e explora a cama e os nossos corpos Catherine mas não é possível uma cena onde se respire solidão com a tua presença Catherine com os teus olhos Catherine em cima de mim na cama ( antologia Poetas de Palmares , Editora Palmares, 1973)

Catherine Deneuve (II)

além do pouco espaço desta cama eu me esforço e não te conheço como o mundo é tão estranho quando caminho pelas ruas e te procuro eu vejo teus cabelos claros esvoaçando com a brisa apertada dos subúrbios e teu riso mágico e teus olhos grandes e me penduro nos teus lábios confusos sorvetes sólidos cachorrosquentes em guardanapos de poemas pornográficos desenhados eu te procuro Catherine além do pouco espaço desta cama eu me esforço para te alcançar na tarde do parque florido e teus pés leves fogem em torno de mim sobre as árvores e teu corpo nu e tua nudez de mármore puro me alucina Catherine tuas coxas louras tuas nádegas teu dorso e eu rodopio Catherine e sobre as árvores admiradas e sobre cabeças caídas teu vôo me sacode entre répteis fracos me esforço para te alcançar e tu danças no meio de nuvens verdes

Catherine Deneuve

não te conheço além desta cama Catherine além dos limites desta cama do pouco espaço e eu não sei esconder a emoção quando ela me sacode como uma britadeira a emoção que me descobre nos rios dos teus olhos Catherine ah se inventarem outro slogan miserável como este eu matarei com as minhas mãos a rainha da Inglaterra, Catherine eu não te conheço além desta cama teus olhos me acalmam como um beijo morno teus olhos calmos doces carregam tua voz para me infundir mistérios Catherine eu penso que tua alma tem a vida de pântanos e de lugares onde reina uma paz assombrosa teus olhos pacíficos me derrotam nesta cama e teu corpo me cobre com a cárnea alegria do sexo Catherine quero comer-te todos os membros quando os teus olhos se abrem assim

Poema vago olhando a cidade

Minha cidade ficará gravada num poema lívido e vago Não será preciso citar becos e ruas inevitáveis em sua anatomia. Nem correr com a memória as lembranças e os minutos de agora. Minha cidade não será vista num poema sentimental. Conservarei oculto até o seu nome Neste poema de amor silente às suas coisas, a ela mesma. Palmares, janeiro / 1970.

AMERICANTO AMAR AMÉRICA & OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20

Neste livro, apresento a minha poesia reunida publicada no século passado, e a sua publicação completa um ciclo de 40 anos da minha produção poética. São poemas publicados em antologias, livretos, folhetos, livro-solo, álbuns, até a última década do século 20. Não incluí, nesta reunião, os 40 poemas do meu primeiro livro de poesia, sem título, publicado em São Paulo no ano de 1971, e os poemas desse período que foram publicados em duas antologias paulistanas - POETAS DA CIDADE / SÃO PAULO, números 2 e 4 - organizadas por Renzo Mazzone (Editora Ila Palma, São Paulo, 1970/71); não incluí também os 45 poemetos das duas edições de CORAÇÃO PORTÁTIL (a de 1984, edição do autor, em tiragem de 500 exemplares, fora do comércio, e a de 1999, publicada pela Nordestal Editora, do Recife, em tiragem de 500 exemplares). O meu livro de estréia está ausente porque o considero, hoje, pelo seu hermetismo experimental, bastante distanciado do que eu acredito ser a poesia que escrevo; e CORAÇÃO PO