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Mostrando postagens de junho, 2010

DO DESAMOR BERRANTE

deitado em teu corpo sou eu quem estremeço de tremores crispados à flor dos meus dentes sem um soluço gemido misturado à chama da fala que se apaga sem espancar teu rosto. sou eu quem mergulho em mim e me abarco com as mãos vazias desorientado e só neste deserto de quatro paredes em que tua voz distante não te anuncia em qualquer rotação. a cama não é teu ninho, a cama é teu holocausto e te estiras inerme quando eu brilho meu sexo ao teu alcance e silencias quando me afundo em teus braços como quem me vê conduzindo as trevas da noite irretornável. a tortura não te escalda a carne e sou eu quem sinto na pele nos ossos os rombos de sua frenética paixão e o clangor de suas cadeias fere e dói fundo e amor-talha minha ternura desprezada nos lençóis com o avesso desta oferta máscula que te faço ___________________________ do folheto RECITY RECIFE - UM (Casa da Cultura / Governo de Pernambuco, Recife, PE, 1976).

PONTE SOBRE ÁGUAS TURVAS

se teu sorriso não movesse o rio contra as correntes do leito onde escorre eu poderia sim eu poderia cair nesta noite sem esperança de te encontrar minha canção é tão pouca minha canção chove e me faz um homem débil tua lembrança joga no meu rosto teus braços cheios de plantas e odores teus peitos macios de tremores e de nuvens encharcadas cigarros sapatos cuspo pedaços de árvores e de pássaros e tuas palavras algumas, que eu misturo com seixos assovios e a melodia que você gostava de ouvir na minha boca agora também o céu é feio e não tem graça tua lembrança me entristece e me enterra nestes espelhos (do folheto RECITY RECIFE - UM, Casa da Cultura /Governo de Pernambuco, Recife, 1976) ________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20 - Juareiz Correya (Panamérica Nordestal, Recife, 2010)