DO DESAMOR BERRANTE
deitado em teu corpo sou eu quem estremeço de tremores crispados à flor dos meus dentes sem um soluço gemido misturado à chama da fala que se apaga sem espancar teu rosto. sou eu quem mergulho em mim e me abarco com as mãos vazias desorientado e só neste deserto de quatro paredes em que tua voz distante não te anuncia em qualquer rotação. a cama não é teu ninho, a cama é teu holocausto e te estiras inerme quando eu brilho meu sexo ao teu alcance e silencias quando me afundo em teus braços como quem me vê conduzindo as trevas da noite irretornável. a tortura não te escalda a carne e sou eu quem sinto na pele nos ossos os rombos de sua frenética paixão e o clangor de suas cadeias fere e dói fundo e amor-talha minha ternura desprezada nos lençóis com o avesso desta oferta máscula que te faço ___________________________ do folheto RECITY RECIFE - UM (Casa da Cultura / Governo de Pernambuco, Recife, PE, 1976).