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Mostrando postagens de outubro, 2011

PORRE CERTO

Os olhos do poeta me investigam acima de qualquer suspeita. São olhos fogo aceso fogo morto os ombros magros e firmes suportam o meu peso e de todos os homens do bar das ruas das famílias do meretrício da igreja da prefeitura eu falo mas eu gostaria de saber o que ele deseja que eu lhe diga realmente. Suas mãos afiladas movem-se na mesma cadência dos cubos de rumgelo tilim tilim no copo, o poeta estende-se na minha frente como um campo largo e canta o hino nacional com um sorriso falso, o poeta tem no rosto um céu limpo e me diz : todos estes anos não escondem um país de merda, o balcão do bar é de merda, as mesas do bar são de merda, os homens fedem as ruas fedem as casas os cinemas as intenções fedem e eu sou um rato miserável porque não sei gritar até me arrancarem os pulmões. Alguém passa assoviando o poeta se afoga no copo de rum olhos fogo aceso fogo morto mãos afiladas o tronco as pernas os braços estouram-lhe e o poeta angustiado derruba as pare

SUFOCO NOSSO DE CADA DIA

tento obedecer as normas deste crime estou falando como eu sei é tão certa a distância que nos desorienta na correria da solidão eu comigo cheio de mim esborrando-me diante de bocas murchas e corações desertos tanto me procuro e de mim só encontro um resto de humanas perdições - um rosto de insanas feições com a bandeira deste amor que não compreendem dou bobeira e todos sabem por onde passo do meu carnaval sem época da minha nudez sem trégua e das danações que me assanham e me conduzem aos cadafalsos dos dias e aos fuzis dos que se escondem nas caras caladas culpas forjadas na pele do medo e enterram nos ossos o estampido da voz (do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA, Recife, PE, 1982) ___________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya - Panamérica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010