OFÉLIA DO CAPIBARIBE (*)




ela era a noite só cheia de apelos
homens querendo seu corpo
delírios de bestas
espasmos do medo
e ela fingindo fugir fugindo
bem me quer
mal me quer
quem me quer
todos querem comer
e comer lhe queriam completo animal
embora seus sonhos não fossem contados
nem voz nascia do seu coração crescido
nem preço nem nome ela teve ou teria
só era a noite seu corpo que havia
e ela noturna como o sangue do rio
em branco sol morto de manhã arrastada
por negras correntes de esgotos detritos
em podre enchente sob as águas boiando
seu corpo era lixo cabelos e flores
bicho mais morto mar a dentro inchando



*Escrito sobre pintura de Tereza Costa Rego


(do livreto PINTURA & POESIA,
organização de Sylvia Pontual e Jaci Bezerra,
Edições Pirata/Galeria 154,
Recife/Olinda, PE, 1984)



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Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA
E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya
- Panamérica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010.

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