CANÇÃO
Dia para fecundar ilusões em que o meu corpo se acalme sem o teu corpo que não me chegou por nenhuma via, e o meu cérebro apodreça com sedativos vaporosos. Dia amargo. Não sei o que fazer corretamente não sei, enfrento caras obesas de hábitos dentro da rua sem calma, inquietação, sem sentimentos, tenho ódio de tudo com a força morta dos meus dedoscabelos amarrados nas janelas dos apartamentos e uma sensação idiota de que abro vazios dentro de mim com um bisturi enferrujado e sangro pelas cicatrizes fétidas cobrindo-as com pastas de tuberculose e dentes de máquinas mastigo pelos braços vagamente bolos de nada. Poemas gargaloam secamente até a minha boca e os meus gritos gelam as estrelas que ardem dentro das salas onde são seviciados e torturados os homens do meu tempo, onde a minha geração sacrifica-se pelo bezerro de ouro das igrejas depravadas e os anjos bíblicos forjam cadeias para as suas alegrias. ____________________________________ ( antologia POETAS DE PALMARES, Editora Palma...