PALMARES

à vida de Givanilton Mendes.



A cidade tem uma vontade asfixiante
que assoma inteira e exerce o seu domínio
sobre todos, vítimas vencidas.
É negra e rija, de músculos tentaculares
e uma história de desprezo sobre os homens
arrotada por mil cantos.
Corre sangue sempre verde em seus lugares
- um rio que não aplaca a sede,
não alimenta e nem apodrece.
Um rio desgovernado, de rumos sabidos,
sempre voragem, vertiginosa viagem.
Águas mortas sem margem
de negruras profundas que vêm de longe
fecundam registros e lendas
fantasiando trombetas pauis pirangis abreus...
Há muitos ébrios perdidos
pelas ruas silenciosas e tristes
invertidos com a bebedeira de tardes noites.
Rebeliões sufocadas, revelações
castradas e reencarnações multiplicadas
na indigência e em cada dor.
Deuses malditos perambulam, ambulantes,
em seu mercado público de sortes e desgraças.
E todos os dias são sempre indiferentes :
tanto faz a vida, tanto faz a morte.



(Da antologia POETAS DOS PALMARES
- Fundarpe / Secretaria de Turismo, Cultura
e Esportes / Fundação Casa da Cultura
Hermilo Borba Filho, Recife, Palmares, PE, 1987)


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Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA
E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya
- Panamerica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010

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