URBANADA & OFERTA DE MIM PARA QUEM APODRECE

tu és a mesma longa louca luxenta besta
a mesma mesminha cidade do mundo parida sem paz
e eu me convido para os teus dentes
onde são triturados todos os homens, pastéis quentes
eu não posso dormir com a tua agonia, cidade horrível
nem tenho mais nada nem sou mais nada boiando na tua gosma
como você fede inteira, que ânus imenso você abre
esfolando os céus
temperando o ar de arrotos
e te comportas com a merda de quatro séculos
adornando tua pose
me falas puta mundeira dos teus filhos monstros grandes
e desse brilho roxo que carregas nas avenidas mercantes
segredas segredos que me metem medo metem
guindastes capitalistas na barriga do povo
dos milhões de povocélulas que povoam tua fome incansável
antro nacional pasto continental charco ocidental
eu já nem sei o que fazer deste encontro contigo
eu que te amaria humanóide apenas
sem qualquer bandeira americana acenando meu riso
eu te amaria como a qualquer uma, contando meu respirar
nas tuas chamas azuis nestas vulvas e pus
cidade horrível
merda metrópole metro merdópole fantasiada
de tudo quanto anunciam as agências de publicidade
de tudo quanto fazem os porcos festa
para a humanidade que está nascendo e morrendo diariamente
com um câncer gigantesco e tão bonito na cara
fabricado made in São Paulo pelas tuas chaminés
que enorme e fétida e maravilhosa miserável é a tua alegria
contando os anos que nos separam da morte natural por asfixia
com poetas virgens amando computadores eletrônicos
e cios populacionais reduzidos a cicios
e mulheres ridentes extirpando os próprios sexos
nas ruas
tudo nada remove teu ritmo ébrio de euforias
e sonhas monumentos e futuros
abortas zumbis multiplicas com a tua febre fantástica
os ambulantes
maquináveis são todos os teus gestos e essa fúria
material castrando a minha voracidade,voraz cidade
perdida



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Do folheto UM DOIDO E A MALDIÇÃO DA LUCIDEZ,
de Juareiz Correya (Palmares, PE, 1975)

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