Postagens

Mostrando postagens de 2010

SEM AMANHECER

amanhece. mas eu sinto que não amanheço. sombras amadurecem em meu rosto e um cansaço eterno mora neste corpo que eu pensei guardar revivido para hoje. amanhece agora - a cidade está pronta para o dia que nasce limpa e clara se instala a manhã no coração dos homens que despertam, sem sombras no rosto e sem cansaço, renascidos também. amanhece. só eu não vejo a luz e os caminhos. (do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA, de Juareiz Correya - Nordestal Editora, Recife, 1982) _______________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya - Panamérica Nordestal Editora, Recife, 2010

FLOR QUE NÃO SE CHEIRA

sou flor que não se cheira, tenho é veneno eu mato e tiro o couro, depois condeno. sou bicho doutro mundo, vivo em tocaia espero todo dia que a casa caia. mas tem hora que sinto e me conheço direto e certo, compasso e prumo sem saber porque me orientando feito universo de todo rumo e saio de mim e me entrego tanto vendaval no coração da cidade cada vez mais nu e louco e santo só minha paixão por tudo arde e sinto e sou e saio e salto cada vez mais alto e largo e fundo navego meu rio, capricho meu barro voando meu fogo purifico o mundo (do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA, de Juareiz Correya - Nordestal Editora, Recife, PE, 1982) ______________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya - Panamérica Nordestal Editrora,Recife, PE, 2010.

MARIA JOANA

joana, eu te quero para dormir menina de olhos cálidos quero bodear te querendo te comendo, maria joana das transações, derrubações dos mil e um baratos, mulher lampejo fumando meus dedos me amassa tou mais ou menos legal partilharei com os meus irmãos toda & qualquer alegria e a paz que nos embala eu sei que te proibem para os meus lábios que te proibem fluir no meu peito encher minha cabeça te é proibido maria (cálida) joana (doce) tu me adormeces todos os músculos me abres no meio de mim com um sopro & que importa ao mundo se me embebedo ? se fico pirado ? se me ouriço do tamanho de uma sensação ? se bodeio com clássicos olhos vermelhos & o corpo meu curtido no teu cheiro & no teu gosto me expõe de dentro de mim & sai comigo ao meu encontro ? (do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA, de Juareiz Correya - Nordestal Editora, Recife, 1982) ___________________________________________ Transcrito do livro AMERICAN

DIA DE SOL

os nervos compridos que estalam-me do corpo atiro pela porta na rua. os nervos rasgados eu grito com um rombo enorme na garganta minha cabeça cresce & quebra os móveis da sala quebra as portas & os objetos na calçada eu apavoro as pessoas com um grito rouco, arremesso as pernas sobre construções e fantasmas de concreto, sou uma miragem, vocês me comovem putas elegantes troco um olho pelo sol agora as veias se abrem & o meu sangue corre solto pela calçada eu me inundo & vomito todos os orgãos para comê-los com um bocado de terra com o meu tórax aberto embaixo de máquinas negras móveis vocês fazem uma festa (do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA, de Juareiz Correya - Nordestal Editora, Recife, 1982) ______________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20 - de Juareiz Correya - Panamérica Nordestal Editora, Recife, 2010.

OFÉLIA DO CAPIBARIBE (*)

ela era a noite só cheia de apelos homens querendo seu corpo delírios de bestas espasmos do medo e ela fingindo fugir fugindo bem me quer mal me quer quem me quer todos querem comer e comer lhe queriam completo animal embora seus sonhos não fossem contados nem voz nascia do seu coração crescido nem preço nem nome ela teve ou teria só era a noite seu corpo que havia e ela noturna como o sangue do rio em branco sol morto de manhã arrastada por negras correntes de esgotos detritos em podre enchente sob as águas boiando seu corpo era lixo cabelos e flores bicho mais morto mar a dentro inchando *Escrito sobre pintura de Tereza Costa Rego ( do livreto PINTURA & POESIA, organização de Sylvia Pontual e Jaci Bezerra, Edições Pirata/Galeria 154, Recife/Olinda, PE, 1984) ___________________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya - Panamérica Nordestal Editora, Recif

CANÇÃO DE MIM EM TUA BOCA

desfolho a glande ao vento para o teu sustento prepucio nervos pulsantes, teu hálito sopra em meu sexo aragens cardíacas, batem neste músculo mágica oferta teus olhos acendem a escuridão do quarto com os mesmos faróis apagadores de sóis marítimos chão liso piso palha colchas mata praia água-rio aguamar reviramos as horas revezamos faunas floras e a história de se dar. tua boca se debruça em mim feita céu movente cobre meu corpo sem palavras estelares consteladas para animar meus movimentos terrenos : apenas cios cios tua voz teleguia carícias me banha sons roucos poucos esparsados, é intensa a tua fome. alimento, o vigor que me nasce vem de ti e eu dedico emoções ao teu sorriso tenso de dentes e línguas expostos luminoso de sede eu te ergo em obelisco minha carne germinada se elaborando do âmago de fundos poços. tua boca presa em mim lambe espadas do púbis derrama as serpentes da tua língua hábil no monumento que te ebria e eleva as tuas forças pa

OUTRO POEMA DE CIRCUNSTÂNCIA

meus pulmões transbordam-me pela boca de granito automóveis & metálicos minotauros vagos como balões de espuma na Praça da República gritos & estupros entram pelos meus ouvidos & a orquestra é uma tarde fixa quente, quente, mais quente e atordoante que o teu orgasmo. parar, parar assim como um idiota parado entre tantos animais feridos que correm para me pisar com os seus cascos de nailon, parar estupidamente & expor-me as vísceras para que os pássaros condenados cantem berros de vitórias nos seus carnavais criminosos ? parar assim como uma pedra uma bala uma vítima ? parar assim como quem perde as pernas durante o vôo & estender a cara sobre a cidade & estender langores & delírios para as tuas correrias, para os teus sentimentos automáticos & cronometrados, para as tuas sensações censuradas & computadas, & ser um pouco matéria lubrificante óleo para os corações dos robôs nas peças dos homens ? eu quero beijar o sexo

ATO

no meio da cama me ergo & Sônia se ergue me acompanha com as mãos os dedos crispados as pernas tesas Sônia se deita se espicha se solta nos lençóis mal lavados da cama do hotel fico imóvel sentado sobre as minhas pernas & o pé esquerdo de Sônia procura-me o pênis semiduro eu rio & Sonia enfia o pé esquerdo na minha barriga deitando-se deitada Sônia cresce cresce tem um púbis gigante & as coxas volumosas como dois pilares eu me jogo para as pernas de Sônia duas montanhas lisas & alcanço o rosto de Sônia que se abre Sônia cabe dentro de mim cabe em todas as minhas partes & agora eu cresço a pele inchada músculos veias os membros inchados (do livreto O AMOR É UMA CANÇÃO PROIBIDA, Juareiz Correya - Edições Pirata, Recife, 1979) ________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, Juareiz Correya - Panamérica Nordestal Editora, Recife, 2010)

CANTIGA DE QUERER

quero gozar na tua boca o beijo mais doce iluminado na noite do teu corpo ganhar a alegria a festa inteira fantasia de mais querer de mais gozar amor viver quero gozar na tua boca de amar amor gozar além da noite nascer o dia no teu corpo garanhar minha alegria ser a festa da tua fantasia tua febre e a sede de se dar amor inteiro, amor de se gozar (do livreto O AMOR É UMA CANÇÃO PROIBIDA, de Juareiz Correya - Edições Pirata, Recife, PE, 1979) _________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, de Juareiz Correya - Panamérica Nordestal Editora, Recife, 2010

MELHOR É AMAR

melhor que morrer é viver cair no bar virar a esquina andar a pé de mão em mão de lotação correr de trem não sei aonde ir de avião chupar o caldo beber a cana ser sem vergonha e ser bacana se depender da ocasião ser um menino que não se engana que sonha muito e cai na cama vira Papa-Figo de Bicho-Papão melhor que morrer é viver ter seu mistério ter sua linha crescer na conta não na conduta sofrer na rinha da sua luta sorrir na hora dizer o nome que quem é homem não se consola entrar de sola ficar de frente olho por olho dente por dente chegar mais cedo ir logo embora melhor que morrer é viver ser singular não diferente não ser pessoa ser mesmo é gente correr jamais não é preciso não tem parada tem é caminho não há demência há só juízo pra ver o bem se vê o mal não vale ao mundo saber profundo vale no fundo o essencial MELHOR QUE MORRER É VIVER MELHOR PRA VIVER É AMAR QUEM VIVE PODE MORRER QUEM AMA NÃO MORRERÁ

PASSAGEM NA PONTE

estou aqui, no meio da ponte no raio do dia (ou no açoite da noite) no vão desta vida, no passo das águas amanhecendo de tarde sem hora de amanhecer desperto com a mesma sede afogada na garganta despejando as enchentes da fala nos rios. estou aqui, em cima da ponte não sou boi nem voarei além do Equador, não vou correr da polícia, não tenho argumentos nem malícia, não vou pular frevo ou maracatu, não sou punguista nem sou camelô. dentro da ponte é onde estou e não me interessa se você para ou passa se você pensa qualquer coisa ou se acha graça e desconversa direto antes de chegar na esquina. não me interessa se você é macho ou fêmea. não me interessa a roupa que você veste, se você não tem dinheiro no bolso ou no banco ou se investe porrilhões e tantos na Bolsa de Valores. interessa é que eu estou aqui na ponte, sem pregão, sem comício, sem liquidação, sem manifesto, sem saber direito como lhes falar de encontros e entregas e dores e vocês têm uma pres

DO DESAMOR BERRANTE

deitado em teu corpo sou eu quem estremeço de tremores crispados à flor dos meus dentes sem um soluço gemido misturado à chama da fala que se apaga sem espancar teu rosto. sou eu quem mergulho em mim e me abarco com as mãos vazias desorientado e só neste deserto de quatro paredes em que tua voz distante não te anuncia em qualquer rotação. a cama não é teu ninho, a cama é teu holocausto e te estiras inerme quando eu brilho meu sexo ao teu alcance e silencias quando me afundo em teus braços como quem me vê conduzindo as trevas da noite irretornável. a tortura não te escalda a carne e sou eu quem sinto na pele nos ossos os rombos de sua frenética paixão e o clangor de suas cadeias fere e dói fundo e amor-talha minha ternura desprezada nos lençóis com o avesso desta oferta máscula que te faço ___________________________ do folheto RECITY RECIFE - UM (Casa da Cultura / Governo de Pernambuco, Recife, PE, 1976).

PONTE SOBRE ÁGUAS TURVAS

se teu sorriso não movesse o rio contra as correntes do leito onde escorre eu poderia sim eu poderia cair nesta noite sem esperança de te encontrar minha canção é tão pouca minha canção chove e me faz um homem débil tua lembrança joga no meu rosto teus braços cheios de plantas e odores teus peitos macios de tremores e de nuvens encharcadas cigarros sapatos cuspo pedaços de árvores e de pássaros e tuas palavras algumas, que eu misturo com seixos assovios e a melodia que você gostava de ouvir na minha boca agora também o céu é feio e não tem graça tua lembrança me entristece e me enterra nestes espelhos (do folheto RECITY RECIFE - UM, Casa da Cultura /Governo de Pernambuco, Recife, 1976) ________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20 - Juareiz Correya (Panamérica Nordestal, Recife, 2010)

"Eu fui visto voando em círculos..."

eu fui visto voando em círculos retos no jardim da infância com anjos cor de rosa ridentes & velozes & as pessoas nos acompanhavam angustiadas pelos céus da cidade todas as crianças me seguiam & atropelavam aviões & mísseis & era uma festa & uma gritaria melodiosa pelos céus da cidade tantos castelos & tantos países de guloseimas casas & montanhas enormes doces comestíveis construídos assim PLUFT (do folheto RECITY RECIFE - UM, Casa da Cultura / Governo de Pernambuco, Recife, 1976) _____________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, Juareiz Correya (Panamérica Nordestal, Recife, 2010)

QUATRO ESTUDOS NU POEMA (4)

ando nos mesmos corredores dos homens comuns & me cerco dos hábitos cotidianos, colocado nos supermercados, cinemas, bares, nos becos me oriento para ser capaz como os outros,com os mesmos vícios que alegram as famílias & o Governo tomando ônibus, táxis, bebendo neurose na capital & consumindo tédio nas cidades do interior me esforço para conduzir assim este corpo magro de vidro pelas ruas onde todos os olhares me rebuscam eu escrevo como quem pratica crimes perfeitos sem paz & alegria para esta descoberta inesperada (do folheto UM DOIDO E A MALDIÇÃO DA LUCIDEZ, Juareiz Correya, Palmares,PE, 1975) _____________________________________________ Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20 - Juareiz Correya (Panamérica Nordestal Editora, Recife, 2010)

QUATRO ESTUDOS NU POEMA (3)

assim o espanto me conduz eu sei onde estou & não sei aonde vou no cérebro guardado posso consultar a memória mas o que me interessa assalta minhas energias sem tempo marcado, aqui eu me erijo & conduzo o movimento que não havia surgido, a palavra que não tinha nascido a emoção que jamais despertara, a música que nunca havia musicado estes símbolos. aqui eu fecundo uma nova espécie, a raça que não nasceu hoje & nascerá sempre : eu inauguro, sem festas, o poema

QUATRO ESTUDOS NU POEMA (2)

o que eu digo gargaloa escarrado na boca eu sou o agitador & a platéia deste comício me espero onde não há saída, venero a podridão sujo tudo que brilha, eu sei que a lama alimenta este mundo, eu abro o olho onde sangro como uma homenagem para os teus passos, eu cego um olho & vejo luzes que não queria me incendiando o rosto com este canto que eu não entendo & a dádiva que me resume neste gesto

QUATRO ESTUDOS NU POEMA (1)

são vocês que me suicidam na guilhotina das palavras. a cabeça empenhada nos cestos dos signosfisgantes assim eu acho viver. as mãos emagrecem na ossatura da máquina fêmea rija ao meu encontro em horas que perdi nos relógios fêmea eu falus & deposito minha ânsia em sua mesa, em silêncio os gritos não gritam nem a tempestade que se alvoroça em mim arrasta as suas teclas numa correria rude, a máquina me ampara como eu necessito mendigo dessa doença sem remédio me datilografo, os fios dedosos telegrafam-me neste lugar & anunciam a minha voz

CANÇÃO DA GRUTA DE VÊNUS

a luz que me nasce fecunda a aurora do ventre, nascem membros orgãos o respirar cronométrico do sangue correntes espelham sua nova fonte. o corpo se estende os seus caminhos na minha frente todo um país que não se descobre conheço as suas montanhas vales praias & lugares comuns sob os meus pés reviram-se seus climas e erupções eu me aprofundo & em suas regiões reinam mistérios intangíveis. o corpo é longo eu mergulho em sua densa sinuosidade me exploro exausto morto de cansaço cedendo ao chão a minha febre. diante de ti me levanto a exibir o orgulho que te fascina macho que te ampara, se oferece para viajar em tua carne deflorar teus prazeres de dentro de ti minha boca despeja-se em teu corpo inteiro bebendo suores & distribuindo lampejos com a língua múltipla me reparto sobre o teu corpo ampla lascívia com que te quero & ondulo revôo leve aliciante mágico odor onírico dos teus espasmos sensuais. cavalgo ferindo a tua terra o meu pênis

URBANADA & OFERTA DE MIM PARA QUEM APODRECE

tu és a mesma longa louca luxenta besta a mesma mesminha cidade do mundo parida sem paz e eu me convido para os teus dentes onde são triturados todos os homens, pastéis quentes eu não posso dormir com a tua agonia, cidade horrível nem tenho mais nada nem sou mais nada boiando na tua gosma como você fede inteira, que ânus imenso você abre esfolando os céus temperando o ar de arrotos e te comportas com a merda de quatro séculos adornando tua pose me falas puta mundeira dos teus filhos monstros grandes e desse brilho roxo que carregas nas avenidas mercantes segredas segredos que me metem medo metem guindastes capitalistas na barriga do povo dos milhões de povocélulas que povoam tua fome incansável antro nacional pasto continental charco ocidental eu já nem sei o que fazer deste encontro contigo eu que te amaria humanóide apenas sem qualquer bandeira americana acenando meu riso eu te amaria como a qualquer uma, contando meu respirar nas tuas chamas azuis nestas vulvas

FLASHEGRAFIA

eu sou tantas vezes uma façanha inédita mas a rua é pouca para o meu corpo a rua a rua é pouca eu vibro e os cordões que me ligam nos ossos têm mil bombardeios-ziguezague como todos os carnavais são tão fracos para que eu estire a pele entregue a pele às carícias do vento e montes de sol meu corpo meu corpocolorido meu cor po colori do meu korpu kolorydo meu corpo colorido se adianta para que ninguém adormeça e anjos e demônios dancem nus e conheçam-se os sexos para você eu me dou e me amplio inteiramente quero expor entre os dedos teus desejos quero os meus sentidos crus comidos pelo teu sorriso esporrado eu me dou e me amplio assim e as ruas são curtas para o meu corpo colorido luzverberando luzes e uma multidão de batuques meus olhos acesos faróis gigantes espalham flores vermelhas nas calçadas nas portas e espalham flores maiores que as casas flores vermelhas meus olhos acesos faróis gigantes nem a avenida larga como o dorso de uma montanha nem a avenida

PARAFRASE A MAIAKOVSKI

"sou todo coração" (MAIAKOVSKI) nos demais - isto se sabe naturalmente e mesmo com certa vulgaridade - o sexo está plantado (entre as pernas) num altar sob o ventre. em mim a anatomia bemlouqueceu : sou todo sexo _______________________ (do folheto UM DOIDO E A MALDIÇÃO DA LUCIDEZ, de Juareiz Correya, edição do autor, Palmares, PE, 1975)

HISTÓRIA NATURAL DO NOJO

abro a cara : o mundo me oferece homens e mulheres que esqueceram de ser parceiros e são pariceiros no amor. (do folheto UM DOIDO E A MALDIÇÃO DA LUCIDEZ, de Juareiz Correya, edição do autor, Palmares, 1975)

OFÍCIO DOS OSSOS (para Juareiz Correya)

O que tens, poeta, é bem pouco ou muito ou nada ou o que seja serve para tua mitologia, sem sentidos tens os pés e a hora do poema cheia, uma enchente pelas ruas da cidade que significas. Tens o prato; e a prata ? tens a prata, uma pata medonha que te esmurra de passagem no meio do povo, de novo, todos querem ver o tabefe te cobrindo o rosto, a rubra vergonha que não tens e te roubas, tentando palhacear, tentando palha cear teu prato direto estômago chato esta vida não te dá enjoos ? Poeta, o que tens não representará nunca teu minuto de sorte contado teu tempo escalas escadas e te calas ? tu falas safado, teu feijão é muito (suficiente para qualquer um) desnecessário para teu apetite, tua ração faz falta aos porcos. O que tens poeta não mereces e se recebes um cruzeiro por igual valor envergonhas o câmbio. O que tens poeta é o que te cabe e não serviria mesmo para ninguém mais. O que tens, excedência dos outros, existe apenas para teu desassos

CANÇÃO DE QUEM SE FAZ AMANTE

De que me serve este amor como uma chaga aberto ? Na cidade de criaturas vazias perdi a noção de mim enegreci o cheiro do meu calor enterrei o meu sexo num buraco de excrementos sem raízes. De que serve tudo isto & a beleza que eu carrego & as minhas palavras sinceras & a luxúria dos meus gestos expostos ? Caminho apenas para evitar esses desencontros que se forjam a minha espera em cada esquina & se metem casa a dentro pregados na minha roupa & pulando rutilantes na máquina. Vou não sei por que abraçar a madrugada pois as desesperanças me sacodem por dentro como uma bolsa em que coração & músculos sem peso estiram-se & vibram num orgasmo masturbado. Amar é apenas uma expressão vaga na boca de quem me ouve. Minhas correrias pelas ruas caladas são buscas inúteis & eu me ofereço eu me ofereço amigo & quente tenho a carne toda para repartir em cada instante & por mil atos multiplicarei os meus pedaços. Eu quero